segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Os Meus Afetos - Padre António Vieira

Foi um dos mais notáveis cultores da nossa língua.
Viveu no séc .XVII e morreu em Lisboa com quase 90 anos.
Nos seus  "Sermões " e "Cartas" defendeu infatigavelmente a libertação dos escravos.
Foi também um notável diplomata.
Neste pequeno excerto é notável a sua capacidade de síntese.

O ESTATUÁRIO

Arranca o estatuário uma pedra dessas montanhas, tosca, bruta, dura, informe; e, depois que desbastou o mais grosso, toma o maço e o cinzel na mão e começa  a formar um homem,- primeiro, membro a membro, e depois feição po feição, até à mais miúda; ondeia-lhe os cabelos, alisa-lhe a testa, rasga-lhe os olhos, afila-lhe o nariz, abre-lhe a boca, avulta-lhe as faces , torneia-lhe o pescoço, estende-lhe os braços, espalma-lhe as mãos, divide--lhe os dedos, lança-lhe os vestidos; aqui despega, ali arruga, acolá recama; e fica um homem perfeito, e talvez um santo que se pode por no altar.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Gato "Lucas"


O meu vizinho amigo e modelo gato " Lucas " numa das suas  habituais visitas ao meu terraço...


Poema ao gato

Quem há-de abrir a porta ao gato
quando eu morrer?
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" Eu não tenho gato mas se o tivesse
quem lhe abriria a porta quando eu morresse?

(António Gedeão )




OS MEUS AFETOS---Sebastião da Gama

Poeta e professor de Português, Sebastião da Gama, nasceu em 10 de abril de 1924 e morreu em 7 de fevereiro de 1952 em Vila Nogueira de Azeitão. A sua vida e obra estão intimamente ligadas á serra da Arrábida, tendo mesmo intitulado o seu primeiro livro de poemas, com o nome de "Serra Mãe".
Para além da poesia podemos apreciar no seu Diário um notável testemunho como docente e uma valiosíssima reflexão sobre o ensino ainda hoje perfeitamente atual.
A sua poesia é extremamente bela... Apresento, neste meu lugar, dois dos seus poemas mais conhecidos. 


Pequeno poema


Quando eu nasci,
ficou tudo como estava.

Nem homens cortaram veias
nem o Sol escureceu
nem houve Estrelas a mais...
Somente,
esquecida das dores,
a minha mãe sorriu e agradeceu.

Quando eu nasci
não houve nada de novo
senão eu.

As nuvens não se espantaram,
não enlouqueceu ninguém...

P´ra que o dia fosse enorme,
bastava
toda a ternura que olhava
nos olhos de minha mãe.

(Sebastião da Gama)

Pelo sonho é que vamos

Pelo sonho é que vamos,
Comovidos e mudos.

Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.

Basta a fé no que temos
basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que à alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia a dia.

Chegamos? Não chegamos?
Partimos e fomos. Somos.

( Sebastião da Gama )